Fonte: Blog Autismo em Goiânia (Mariluce Caetano) autismoemgoiania.blogspot.com.br
::::Dificuldades no Desempenho Ocupacional de crianças com Perturbação do Espectro Autista
O brincar é a principal ocupação das crianças. É uma atividade espontânea, voluntária, criativa e intrinsecamente motivadora. Enquanto as crianças brincam, desfrutam da interação com o outro e, ao mesmo tempo, retiram prazer dessas experiências Através desta atividade, as crianças aprendem competências necessárias para interagirem adequadamente com o meio, ao nível motor, cognitivo, emocional e da linguagem.
As crianças com perturbações do desenvolvimento podem ter alterações nas competências que são requeridas no brincar. Quando um terapeuta ocupacional lida com uma criança com PEA um dos seus principais objetivos de intervenção é, sem dúvida, promover o brincar. Assim, pretendemos melhorar estas competências de modo a que os indivíduos consigam, através da interação com o meio, adquirir novas aptidões.
No entanto, o brincar tem que ser adequado às características individuais da criança, ou seja, não pode ser demasiadamente simples nem demasiadamente complexo, de modo a evitar desinteresse e frustração. Para além das competências motoras, esta atividade requer que haja uma boa capacidade de integrar informação, comunicar verbal e não verbalmente, compreender e responder aos estímulos.
O planeamento motor ou praxia é o processo cognitivo que precede um comportamento; envolve a organização do timing e sequência das ações (Parham & Fazio, 1997). Engloba a capacidade de pensar sobre o que fazer e de ter respostas adaptativas face a situações diferentes e inesperadas. A eficácia deste processo depende em grande parte da qualidade da integração dos inputs sensoriais. Este processo de integração sensorial contribui para a construção do esquema corporal, fundamental para o planeamento motor. Uma criança que não tenha consciência corporal, não consegue interagir eficazmente com o meio.
A integração sensorial é constituída por três fases (ideação, planeamento e execução), todas elas fundamentais durante o brincar. A ideação é a capacidade de conceituação de uma ideia do movimento que se pretende fazer, de modo a estabelecer uma interação positiva com o meio. Após saber que movimento se quer efetuar, é formulado um plano para pôr em prática essa ideia, que inclui como organizar as ações no espaço e tempo (planeamento). Depois parte-se para a realização em si do movimento, a parte observável de todo o processo (execução). Durante todo o processo ocorrem mecanismos de feedback. Para um completo envolvimento no brincar, a criança tem de ser capaz de criar novas ideias à medida que formula e executa os seus planos motores.
As crianças com dispraxia são tipicamente desajeitadas, desorganizadas e apresentam diversas dificuldades nas diferentes áreas de ocupação. Podem ter problemas ao nível do desenvolvimento motor, interação social e performance escolar. Ao se depararem com estas dificuldades podem desenvolver baixa autoestima, para além de experiências em frequentemente grande ansiedade, frustração, irritabilidade. Uma intervenção delineada para melhorar a praxis teoricamente beneficia as competências requeridas no brincar. Da mesma forma, se usarmos o brincar como meio terapêutico pode haver melhorias ao nível do planeamento motor na criança. Assim, pode dizer-se que a praxis e o brincar estão fortemente interligados. O brincar é uma importante ferramenta terapêutica para desenvolver as competências de planeamento motor.
Quais são as principais dificuldades das crianças com PEA?
As crianças com PEA têm dificuldades significativas nas várias etapas do planeamento motor, especialmente na ideação, planeamento e sequênciação e no feedback, devido às suas limitações no processamento e integração dos estímulos sensoriais, no esquema corporal, no pensamento abstrato, na interpretação das pistas do meio, à sua obsessão pela estruturação e aos comportamentos peculiares (comportamentos estereotipados, posturas anormais, atrasos na resposta motora). Quando estas crianças rejeitam o movimento devido a uma sobrecarga do sistema nervoso ou quando se envolvem durante a maior parte do tempo em atividades repetitivas, podem perder oportunidades de desenvolver mecanismos de feedback. Isto pode comprometer de forma significativa o processo de planeamento motor.
A execução é a área menos comprometida, sendo sobretudo afetada pelas dificuldades motoras que os autistas apresentam, sobretudo a nível da iniciação e manutenção do movimento. Outra área problemática no brincar e planeamento motor destas crianças é a imitação. De facto, têm dificuldades na imitação de movimentos, de utilização de objetos, de expressões e gestos, apresentando assim dificuldades no desenvolvimento de novos comportamentos e formas de brincar. As crianças com PEA apresentam dificuldades na imitação devido à incapacidade de estabelecer a ponte entre a percepção e a ação. Devida a estas dificuldades no planeamento motor, as crianças com PEA podem apresentar um brincar muito concreto e repetitivo, com pouca exploração do meio. Preferem também um brincar solitário, não procurando a interação com os pares. Têm também dificuldades no processamento, discriminação sensorial e no esquema corporal o que vai afetar o processo de planeamento motor. Estas crianças têm dificuldade na transição de uma atividade para outra e na generalização de ideias, a capacidade de perceber conceitos temporais está afetada.
Texto retirado na íntegra do Face Síndrome de Asperger - Autismo
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